"Não tenha medo de errar, vai acontecer e é com os erros que aprendemos."
Pérolla Franzini é atriz, escritora e estudante. Iniciou sua trajetória na escrita aos 12 anos, quando publicou sua primeira história na plataforma Wattpad, onde continua a divulgar suas outras obras até hoje. Ela já explorou diversas redes sociais em busca de seu lugar. Inicialmente, tentou ser youtuber, mas encontrou dificuldade na edição de vídeos; posteriormente, buscou ser blogueira no Instagram, porém não se manteve ativa no aplicativo; finalmente, encontrou sucesso como usuária assídua do Twitter, onde publica com frequência.
No entanto, Pérolla realmente se encontrou nos palcos, interpretando personagens com diversas personalidades, e na escrita, dando vida às personagens que surgem em sua mente. Em momentos de tranquilidade, é comum encontrá-la em um ambiente silencioso, acompanhada de um excelente romance ou livro de fantasia, com seu gato dormindo ao lado.
Dando sequência para nossa série de entrevistas com autores da Palavra & Verso, trazemos aqui um pouco da trajetória literária de Pérolla, bem como suas inspirações, seus próximos projetos, etc. Confira:

Palavra & Verso - O que a inspirou a começar a escrever romances de época? Há algum autor ou livro específico que teve uma grande influência em seu trabalho?
Pérolla Franzini - Desde a minha adolescência, quando meus gostos literários começaram a mudar, percebi que meu foco sempre era romance. Não sabia que este gênero poderia ser tão abrangente. Foi então que um dia minha mãe me presenteou com o livro chamado Perdida da Carina Rissi. Meu mundo se abriu para os romances de época.
Lia Julia Quinn, Tessa Dare, Lisa Kleypas... E parecia que não eram suficientes. Eu já amava saber sobre o passado nas aulas de história, então comecei a fazer um curso sobre história da indumentária. Os vestidos, as anáguas, as combinações, tudo tinha uma etiqueta e uma história.
Em 2020, depois de tanto absorver sobre o passado uma ideia começou a pipocar em minha mente. Foi aí que tive que tomar uma decisão. Se eu quero escrever, colocar estas personagens em um ambiente, qual seria? Foi então que eu olhei para minha estante e vi a minha primeira autora de romance de época, a que sempre me fazia virar noites lendo. O livro já meio amarelado, a capa um tanto marcada, Carina Rissi foi meu insight. Ver Perdida na estante foi o último empurrão para que eu começasse a escrever e meu primeiro romance de época tomasse forma.
Palavra & Verso - Como você desenvolve seus personagens? Eles são baseados em pessoas reais ou são totalmente fictícios?
Pérolla Franzini - Nelson Rodrigues, jornalista, romancista, teatrólogo e cronista, quando decidiu escrever "A Vida Como Ela É", dizia que a melhor inspiração para escrever era a vida real. É claro que ele depois escrevia com mais hipérbole e talvez as situações nem fossem tão absurdas quanto ele fazia parecer, mas tudo que acontecia ao seu redor virava uma história.
Assim como Nelson também me inspiro em pessoas e até mesmo situações reais. Como uma boa ouvinte (fofoqueira), as pessoas e situações não precisam ser conhecidos ou que aconteceram comigo, basta que eu saiba ou veja alguém que me desperte interesse e logo me vem uma ideia. Crio um cenário, uma história, um nome e até uma personalidade, anoto tudo e logo passo a desenvolver uma nova aventura.
Como nos meus romances, alguns personagens são inspirados em pessoas reais e assim que conto para a pessoa que a inspiração foi ela, sempre vem a mesma resposta: “Eu?! Mentira?!... Eu sou assim?”. É um misto de confusão que me tira risadas. É claro que, no final, ver o sorriso de cada um é sempre uma experiência.
Palavra & Verso - Você segue uma rotina específica de escrita ou escreve quando sente inspiração? Como é seu processo criativo?
Pérolla Franzini - Um dos meus erros como escritora foi o hábito de não seguir minha rotina e não focar em uma história. Isso me tirou tempo para pensar no desenvolvimento dos livros já publicados. No momento, tenho focado apenas em uma história, quando as ideias de outros enredos pipocam na mente eu pego um caderninho minúsculo que adquiri e anoto tudo nele para, no futuro, eu venha a escrever. É claro que quando o bloqueio criativo me acerta em cheio preciso de um tempo e é nesses momentos que visito também o caderninho.
Anotar tudo, desde o super objetivo do livro (o plot que você quer para sua história), até os dados mais simples das personagens, tem sido a parte crucial do meu processo criativo, porém demorei muito para tomar estar disciplina, além de entender que eu não preciso me cobrar e que meus personagens, minha história e eu mesma temos o nosso tempo.
Palavra & Verso - Quais são os principais temas que você gosta de explorar em seus romances de época e por quê?
Pérolla Franzini - Com certeza, o olhar feminino sobre tudo.
Roupas, atividades, homens... Coisa mais feminina que poderia estar exposta para uma dama em pleno século XIX, mas ainda sim com uma personalidade humana e resistente. O que mais me aproxima dos livros que eu leio é o fato de o quão a personagem se aproxima de mim, mesmo ela estando em 1830 ou no meio de um Apocalipse. Isso sempre deixava os livros mais interessantes e era isso que eu queria para as minhas. Se os leitores não rirem, não chorarem, não sentirem raiva do que adianta?! Eu queria isso, que mesmo a situação não sendo real, a personagem sentisse aquilo e cativasse o leitor a pelo menos entender o seu lado.
Escritores tem o poder de defender seu vilão escrevendo ele dando um apelido fofo para a heroína.
Palavra & Verso - Qual foi o maior desafio que você enfrentou ao escrever seu último livro? Como você o superou?
Pérolla Franzini - Com certeza, a falta de disciplina perante a uma rotina de escrita, sem anotações e o bloqueio criativo.
Como aprendemos pelos nossos erros é preciso sempre estar atento ao que te impede. Parar e refletir sobre foi o que me ajudou a ter uma percepção maior sobre o que poderia estar me atrasando. Quando me dei conta de que eu era o empecilho primeiramente não me cobrei ou culpei, já estava sobrecarregada o bastante e então, ao invés de me obrigar a escrever, de ser mais organizada, tirei um tempo para descansar. Fiz o que me acalma, o que deixa minha mente leve: li. Viajei por mundos e então ideias é mais ideias surgiram para a história e naquele momento respirei fundo e anotei tudo, nada de me afobar para escrever.
É claro que o tempo sempre é a resposta, agora meu método mudou e consigo pensar com mais calma, não preciso vomitar plots e mais plots para me deixar ansiosa. Para uma pessoa ansiosa pedir calma é quase impossível, eu sei como é, mas foi o que me ajudou e ajuda até hoje.
Palavra & Verso - Como você lida com o bloqueio criativo? Tem alguma técnica ou hábito que a ajude a superar esses momentos?
Pérolla Franzini - Antigamente, eu via o bloqueio criativo como uma frustração, chegava até mesmo a me culpar por tê-lo. Não era tão comum escritores falaram sobre isso abortamento, já que era visto como uma fraqueza, um fracasso em sua carreira. Com o amadurecimento e as pessoas falarem mais sobre isso minha perspectiva perante o bloqueio criativo está mais brando. Penso que em primeiro lugar devemos ser mais carinhosos conosco, saber quando nossa mente precisa de um descanso, afinal paramos de ter ideias quando o cérebro está carregado demais e não nos culpamos por isso.
A rotina de escrita foi uma das saídas que me ajudaram com essa falta de ideias, a organização clareia a mente e nos mostra um caminha mais claro. É claro que não é a solução milagrosa para tal, mesmo seguindo tudo à risca ainda não é a cura para escrever fluidamente para sempre. É preciso também descansar a mente, fazer algo que me distraia e descanse meu cérebro ajuda a clarear e acalmar para assim voltar a escreverem que isso leve tempo, o importante é poder escrever com segurança e sem pressão ou culpa.
Palavra & Verso - Qual foi a reação dos leitores ao seu primeiro romance publicado? Como essa reação influenciou seu trabalho subsequente?
Pérolla Franzini - Com muita surpresa, recebi muitos retornos positivos dos leitores. Muitos deles até mesmo me apresentaram críticas construtivas, pontos que eles sentiram falta e logo vi pelos olhos deles e percebi como foi incrível ter esse contato direto com eles. Levei em consideração tudo o que me disseram e tentei ao máximo trazer para o segundo livro, eram pontos interessantes, desenvolvimentos que eu mesma queria ter trazido, mas tive receio por ser meu primeiro livro. É claro que mesmo ouvindo cada um e lendo os comentários sei que muitos não ficaram satisfeitos e uma coisa que me ajudou foi saber que minha escrita tem um público, então não é algo que agrade todos, mas preciso que me agrade o agrade este público.
Receber um retorno, não importa se for negativo ou positivo, me ajuda a crescer como escritora, levo em consideração tudo o que me dizem, tentando evoluir e, acima de tudo, dar vida as personagens adormecidas em minha mente.
Palavra & Verso - Como você equilibra o desenvolvimento do enredo com o desenvolvimento dos personagens em suas histórias?
Pérolla Franzini - Um ponto que com certeza foi de extrema importância para foi determinar se o desenvolvimento da história estaria totalmente conectado com o desenvolvimento da personagem ou se elas estariam separadas. E assim que eu determinei isso foi crucial para saber como sairia o plot da história toda. Com certeza, não diria que haverá sempre um equilíbrio entre as duas coisas, algumas vezes a história toma um rumo que nem mesmo o autor sabia e acaba passando por cima da personagem, por isso eu sempre anoto todas as ideias e sempre faço uma leitura do que acabei de escrever para saber onde posso ou não mudar.
É de extrema importância para mim que a personagem tenha um desenvolvimento que acompanhe a história, por isso em “Com Amor, Seu Capitão” por mais que ela visite o passado ele acrescenta um desenvolvimento tanto na personagem quanto na história. Gosto de pensar, principalmente quanto escrevo, que são linhas paralelas, intrínsecas com outras linhas, plots e subdesenvolvimentos, mas elas seguem apenas um caminho.
Palavra & Verso - Você poderia compartilhar alguma experiência marcante que tenha vivenciado durante o processo de escrita?
Pérolla Franzini - No processo de escrita do primeiro livro passei por uma mudança drástica: tranquei minha faculdade de Odontologia. Já estava no segundo ano, já começando com atendimento ao público e já sabia que não era para mim. Quando finalizei o livro e publiquei também desisti do cursinho e da faculdade de Jornalismo, já que o processo seletivo para a Escola de Atores Wolf Maya estava rolando. Com minha aprovação no curso, minha vida mudou em questão de semanas e tive que aprender a me virar em uma cidade grande, morando sozinha e estudando. É claro que tive que amadurecer de vez e isso acabou refletindo na escrita. Percebi que Com Amor, Seu capitão estava com uma linguagem jovem adulta, com problemas mais reais e mais densos, as personagens ainda que divertidas, tinham seus momentos de reflexão.
Foi incrível ver como crescer faria minha escrita me acompanhar.
Palavra & Verso - Como foi o processo de escrita dos romances: “Eu odeio Benard Willick!” e “Com Amor, Seu Capitão”?
Pérolla Franzini - Mesmo sendo da mesma trilogia, o processo dos dois livros foram completamente diferentes, a única coisa que se manteve foi a aparência das personagens e o enredo da história. Como “Eu Odeio Benard Willick!” foi a minha primeira história que eu realmente finalizei não sabia muito bem como finalizar ele, se era uma história muito curta, se estava muito chata, eu apenas arrisquei. Já para “Com Amor, Seu Capitão” eu já sabia como funcionava, como eu queria que acabasse e qual seria a reviravolta. Não são histórias complexas, mas com certeza o segundo livro tive muito mais desenvolvimento e enredo para contar, por conta da minha pouco experiência com o primeiro livro e com uma organização de escrita.
Palavra & Verso - Quais conselhos você daria para escritores iniciantes que estão tentando escrever seu primeiro romance?
Pérolla Franzini - Apenas comecem a escrever e mergulhem de cabeça. O seu maior apoio vem do interior, é você contra você mesmo. E não tenham medo de errar, vai acontecer e é com os erros que aprendemos. Grandes escritores erram até hoje, afinal somos humanos e isso nos amadurece, nos fortalece, não deixe que isto seja um empecilho.
Comments