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A literatura inspiradora de Rayane Pazini

"Sonhar não basta, trace um objetivo."

Rayane é natural de Sinop, Mato Grosso. A autora reside em uma fazenda com o marido e filho no interior do Paraná. Nascida em 1995, seus primeiros escritos foram na infância, quando escrevia cartas para a mãe e poesias sobre os seus desafios da adolescência. Publicou algumas poesias em antologias organizadas pelas editoras Upbooks e Porto de Lenha e, recentemente, dois contos na revista digital Pulb Nacional de Literatura Fantástica (Vol.2). Outras histórias de sua autoria estão disponíveis no Wattpad. “Uma José do Século XXI”, publicada por nós, é sua primeira obra solo.

Dando sequência para nossa série de entrevistas com autores da Palavra & Verso, trazemos aqui um pouco da trajetória literária de Rayane, bem como suas inspirações, seus próximos projetos, etc. Confira:



Palavra & Verso - Como foi o seu despertar para a escrita? Fale um pouco sobre como o ato de escrever histórias surgiu na sua vida.

Rayane Pazini - Desde criança, eu costumava escrever poesias e cartas para dar de presente para minha mãe. Escrevi poucas, joguei todas fora. Conheci uma colega de sala, no Ensino Médio, que também escrevia poesias, então ela me incentivou a ter um caderno para arquivar tudo o que eu escrevesse. Depois dela, fui incentivada pela professora de português cujo nome faço questão de lembrar: “Nilza”; ela lia as minhas redações e frequentemente me elogiava, até que um dia ela disse algo que me marcou: “Um dia eu quero ter o privilégio de ler um livro seu”. Por ela acreditar em mim, embora familiares pareciam não dar importância, valia a pena tomar essa palavra como meu destino. Eu uni a minha necessidade de escrever para aliviar as dores da ansiedade e depressão com a esperança de viver, daí decidi que escreveria meu primeiro livro contando sobre a minha própria vida.



Palavra & Verso - Fale um pouco sobre a literatura cristã, e qual é a importância dela em sua vida como leitora e escritora.

Rayane Pazini - Conheci a ficção cristã através do meu desejo em escrever histórias com um propósito maior e mais nobre, histórias que edificassem o leitor além de entreter. Tive essa ideia por entender que qualquer que fosse o meu trabalho, eu poderia fazê-lo como gratidão a Deus, expressando a minha fé. Em 2016, quando conheci o Wattpad e comecei a postar meu primeiro romance lá, eu notei a existência da categoria “espiritual”. Assim, descobri a ficção cristã que, naquela época, era mais conhecida como “Romance Cristão”. Antes disso, nem imaginava que esse gênero existia! Eu me senti ainda mais motivada por provar a mim mesma que outros escritores também partilhavam do mesmo propósito. De forma simples, a ficção cristã é um gênero em que se aborda uma cosmovisão cristã desenvolvida pelo autor que também é cristão. Sendo ficção, não é um amontoado de regras religiosas, mas uma expressão de fé por parte dos personagens vivendo a história. Há sempre o contraste do bem x mal, do santo x profano, do céu x inferno.


Palavra & Verso - Quais são os seus escritores favoritos, bem como os autores que influenciam a sua escrita? Cite alguns livros que você indicaria para nossos leitores.

Rayane Pazini - Eu admiro muito C.S. Lewis, Neil Gaiman, Laura Esquível, J.K. Rowling, Lycia Barros e talvez outros mais. Devo ter lido um ou mais livros de cada autor mencionado, mas não posso garantir que eles influenciam a minha escrita diretamente, na verdade, quando conheci um pouco de suas obras, eu me identifiquei com o estilo literário deles, senti que eu poderia fazer algo semelhante ou que, de uma forma simplória, eu já fizesse. Acredito que eu sou uma coletora de retalhos, pego um pouco daqui e dali, misturo tudo e tento fazer parecer meu. Por C. S. Lewis eu tenho muita admiração desde que eu li “As Crônicas de Nárnia” e soube que essa obra é uma alegoria cristã, e em seguida eu soube que ele é um autor cristão que escreveu muitos livros teológicos. Por Neil Gaiman eu tenho meu mais novo sentimento, pois me interessei em ler sua obra “Coraline”. Assisti ao filme quando criança e, recentemente, senti vontade de me aprofundar nessa história que eu amo demais, e até estou pensando em escrever uma história inspirada em “Coraline”. Por Laura Esquível eu sou grata por conhecer o gênero Realismo Mágico (também chamado de Realismo Fantástico). Li duas obras dela, e a que mais gostei foi “Como Água Para Chocolate”. Desde que vi uma simples explicação sobre esse gênero meio desconhecido, fui procurar um livro para ler, e eu me diverti muito com o romance de Laura Esquível. Por J. K. Rowling, posso expressar o quanto eu sou apaixonada por Harry Potter, o quanto aprendi com sua obra perfeita. (Sou lufana, só para deixar registrado). Por Lycia Barros tenho muitas memórias especiais, pois através de suas obras de ficção cristã eu pude vislumbrar o potencial desse gênero que eu pretendia fazer parte. Li toda a série Despertar da Lycia Barros e amei demais. Mas o meu coração ficou extasiado ao conhecer seu último lançamento: “Rute, a estrangeira”.



Palavra & Verso - Você escreve de maneira intuitiva? Como é o seu processo de busca por aprimoramento?

Rayane Pazini - A intuição é como um farol na minha testa quando tudo ainda está escuro para mim, quando eu não sei exatamente como vou escrever uma nova história. Porém, eu reúno tudo o que aprendi a cada experiência de escrever, a cada experiência que pude coletar de outros autores e dicas de escrita que recebo do professor Nano Fregonese. O Nano é o mestre das minhas construções de enredo, estudo sobre storytelling, e o mais importante: estudo sobre a vida; e o André Vianco um pouco também, já que eu participei algumas vezes de suas lives sobre escrita criativa. Aprendo ainda com outros professores que encontro na internet, por exemplo: o canal do Ficçomos, Escreva Seu Livro, Carreira Literária, Lilian Cardoso e outros nomes até mesmo de escritores de ficção cristã que costumam dar dicas de escrita no Instagram.



Palavra & Verso - Ainda falando sobre o seu processo de criação, quais são os desafios diários de ser escritor?

Rayane Pazini - Quando se escreve por hobby ou por vontade de fugir da realidade, não há a preocupação com todo o resto. E esse resto é muito importante, tão importante que às vezes me perturba. Saber sobre o quê escrever, para quem e porquê é o mínimo necessário para iluminar meu caminho. É do conhecimento de todos que, apesar dos benefícios, esse mundo digital nos provoca muita pressão por produtividade, engajamento, influência e etc. Eu tento achar meu nome em algum banquinho dessa fila de espera para ser visto, mas acabo seguindo minha própria intuição e escrevendo uma história que mexe comigo, que me instiga, que me angustia até. Quando uma história querendo ser escrita me convence de que é uma questão de vida ou morte para mim, decido iniciar o processo de escrevê-la. Eu tenho uma motivação um tanto volúvel, então meu processo de criação é intenso assim e, geralmente, está envolvido com meu momento emocional atual.



Palavra & Verso - De onde veio a inspiração para o seu livro“Uma José do Século XXI”, e como surgiu a ideia do título?

Rayane Pazini - O início dessa resposta está na primeira pergunta. Este livro conta a história da minha vida, precisamente sobre minha infância e adolescência, até começo da vida adulta. Ele não foi inspirado, surgiu como meio de sobrevivência para mim, foi a forma que encontrei para lidar com a depressão porque eu precisava ficar viva para poder escolher o final dessa história. Agora, sobre o título, sim. Foi um processo de inspiração interessante. O primeiro título que eu dei foi De Volta À Vida, mas percebi que existia outro livro com esse nome, e não me agradava muito, parecia genérico demais. Depois, pensei em Amor Catarse assim que conheci essa palavra “Catarse” pelo meu aplicativo de dicionário. Mas as pessoas começaram a fazer a seguinte pergunta logo que eu lhes anunciava o título: “Amor ca, o quê?”. Então, pela milésima vez ouvindo sobre a história bíblica de José, em um culto comum, tive a ideia do título. Sem mais nem menos. Quer dizer, eu orei a Deus para que me ajudasse a decidir que título seria. Daí, lembrei o quanto a história de José me inspirava a viver a minha, de como eu sempre quis ser como ele, ser reconhecida e amada um dia pelas pessoas que me causaram injustiças. Tenho esse apego por esse título e nunca aceitei sugestão de mudar, porque ele significa muito para mim.



Palavra & Verso - Qual é a principal mensagem que você quis transmitir com o livro “Uma José do Século XXI”?

Rayane Pazini - A melhor história não é a de seu livro favorito, é a sua vida. Esta é a mensagem que eu queria transmitir. Uma mensagem de esperança de que você (leitor) é o autor de sua história. Por isso, a frase/tema de Uma José do Século XXI é: “Você é fiel ao que acredita? Desistir não é a solução”.



Palavra & Verso - Como foi a criação da protagonista da obra, Marjorie? Fale um pouco sobre a personagem.

Rayane Pazini - Como eu disse, a protagonista Marjorie é uma versão de mim do passado. A Marjorie é eu, mas eu não sou ela. Os anos se passaram, eu mudei de ideia sobre muitas coisas que eu acreditava e me arrependi de outras que tive certeza de ter feito e/ou escolhido certo. A vida é assim. Não tenho vergonha de ter sido a Marjorie, mas prefiro ser a Rayane de agora. Eu mal acreditei quando vi que muitas leitoras se identificaram com a Marjorie, com o jeito dela, com os ideais dela, com as tristezas dela... Isso me provou que fiz uma boa escolha ao decidir escrever meu primeiro livro contando sobre mim mesma, pois meu objetivo pessoal de vida é não ter uma vida vã porque tudo neste mundo é vaidade.



Palavra & Verso - Como você observa que está sendo a recepção da obra, por parte do público?

Rayane Pazini - Encontrei dois tipos de recepção: alguns que leram e disseram ter gostado da experiência como sendo a primeira vez lendo algo do tipo e os que leram e disseram ter se identificado com a história. Acredito que o título do livro e a sinopse acabam filtrando o interesse do público, porque a maioria que leu e me contou que leu, apreciou muito.



Palavra & Verso - Você tem muitos projetos em mente? Pode falar sobre algum deles? Fale um pouco sobre sua trajetória literária.

Rayane Pazini - Prefiro ocupar minha mente com um projeto de cada vez. Ideias eu tenho muitas, mas projeto tenho um agora. Como mencionei antes sobre meu amor pela obra “Coraline”, tenho me preparado (e ainda estou me preparando) para escrever uma história inspirada nela. Contudo, não posso dizer muito porque estou em fase precoce de criação. Tenho, na verdade, um projeto finalizado e recente e que posso falar abertamente a respeito, um romance New Adult chamado “As Cores de Morgana”. Publiquei quase todos os capítulos no Wattpad e pausei as postagens por enquanto, penso em participar do prêmio Wattys 2022, e se eu resolver mesmo participar, vou completar as postagens dos capítulos. Sinceramente, na minha opinião, esta é a minha melhor história escrita. Este livro conta sobre as cores externas e internas de Morgana, de como ela lida com sua própria aparência acrescentada ao vitiligo e de como lida com sua identidade em processo de maturação. O enredo se resume a Morgana querer sair de uma ilha brasileira desconhecida habitada por uma sociedade secreta religiosa e se reunir de novo com a sua família, mas o seu pai e ela estão cativos nesse lugar, e a única forma de sair é conquistar um título de autoridade nessa sociedade, então ela decide participar do concurso Esposa Ideal para ser a noiva escolhida a se casar com o filho do pastor presidente.

Quanto à minha trajetória, quero resumir em poucas palavras que eu participei de várias antologias de poesias e algumas de contos antes de publicar "Uma José do Século XXI", e também escrevi outras histórias que publiquei no Wattpad. Contudo, uma delas eu retirei a publicação e a outra continua lá, chama-se “Da Cor do Urucum” – é a minha primeira história de realismo mágico. Adorei escrevê-la, por sinal, foi muito divertido. Ela é inspirada em três lendas da cidade de Bonito, Mato Grosso do Sul, e na história de vida de uma amiga. Além disso, “Da Cor do Urucum” conta sobre a adolescente Niara, uma descendente indígena do povo Terena.



Palavra & Verso - Gostaria de deixar um recado de motivação para novos escritores continuarem a buscar por seus sonhos?

Rayane Pazini - Não quero ser rude, mas posso estar sendo meio dura agora. Para mim e para outro escritor como eu, digo: “Sonhar não basta, trace um objetivo”. Os sonhos são como uma bebida que nos alegra enquanto a tomamos, mas depois nos faz notar o peso do nosso destino. Eu teria muitos motivos para desistir, talvez não consiga desistir, porque para mim, escrever é uma questão de vida ou morte, embora eu não dependa mais da escrita para sobreviver às frustrações da vida. Se eu desistisse de expor minhas histórias ao mundo, continuaria escrevendo de qualquer forma, pelo menos em meu diário. Meu conselho é: conheça a si mesmo, descubra a sua razão de viver, identifique o seu caminho, estude sobre escrita criativa, storytelling e tudo o que mais for útil, e siga em frente. Só faça isso se realmente quiser. A escrita tem que ser parte de quem você é. E, se você já tem algumas cartas na manga: se já tem público-leitor, livro escrito, propósito, um pouco de dinheiro e outros, vai desistir por quê?



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